No Lago Titicaca, partilhado entre o Perú e Bolívia, encontram-se várias ilhas e comunidades que aqui se estabeleceram desde há vários séculos (antes mesmo do domínio do Império Inca!) e que guardam até aos dias de hoje algumas das suas tradições e costumes ancestrais.
Com uma destas ilhas em particular criamos um laço emocional, não só pela magnânima simplicidade do modo de vida dos seus habitantes, mas também pela energia e sentimento de serenidade que nos é transmitido por este local tão especial.
O projecto educativo na ilha Amantani
Falamos de Amantani, umas das illhas no Lago Titicaca, que nos seus 3.5km de diâmetro – situada a quase 4000m de altitude e 3h de navegação da cidade de Puno – acolhe menos de 4.000 residentes, divididos por 10 comunidades e cerca de 800 famílias.
Durante a nossa primeira visita, em 2016, tivemos a oportunidade de conhecer o projecto educativo criado na comunidade Lampayuni, onde fomos recebidos de forma muito hospitaleira pelo chefe Walter Juli e as seis famílias onde pernoitamos.
Este projecto, desenvolvido com um dos nossos parceiros locais, tem por objectivo a contrução e manutenção de uma biblioteca escolar no seio da comunidade. Esta visita, permitiu-nos conhecer a realidade destas crianças e famílias e perceber a importância deste projecto para a crescente literacia dentro da comunidade.
Para quem vive numa pequena ilha, em que colocar o pé em “terra firme” é a excepção e não a regra, esta é uma óptima forma de combater o inevitável isolamento. Por um lado, a educação das crianças dá-lhes ferramentas que serão úteis no futuro; por outro o contacto com estes “visitantes estrangeiros” traz-lhes um mundo de diversidade até casa, literalmente.
Um regresso feliz, uma alegria redonda
Este ano não foi diferente! Novamente rumamos à ilha Amantani, onde fomos acolhidos pelo chefe Maradona e três novas famílias. Depois de subir a encosta árida em caminhos de terra estreitos, voltámos a encontrar o projeto educativo, que aí continua a dar os seus frutos.
Hoje a biblioteca não é mais do que uma simples sala, com chão de madeira gasta, um quadro de giz e um armário com uma dezena de estantes com livros. Mas aquele espaço à partida frio era muito mais que um lugar de conhecimento, era também um lugar de encontro aquecido com música e a brincadeira dos mais novos.
Todos os dias, crianças de todas as idades escolhem aquele lugar para brincar com os seus amigos e aprender algo de novo. À volta da mesa, os rostos inicialmente tímidos foram, a pouco e pouco, dando largas ao seu imaginário. E, de repente, num ápice de um segundo, uma bola traz uma explosão de alegria e todos se misturam a brincar sem receio. Talvez seja ali o único espaço da ilha onde podem ser inteiramente crianças.
Os desafios da vida na ilha
Fora daquelas quatro paredes, a realidade de Amantani é dura. A agricultura, que é a fonte de sustento dos habitantes da ilha, vê-se agora ameaçada com as alterações climáticas.
Chegámos no final de Maio e as chuvas já deveriam ter terminado. As plantações de batatas, milho, quinoa e outros cereais estavam ameaçadas. Neste sentido, o turismo começou a ser um elemento importante para a subsistência da ilha. Várias famílias recebem turistas de uma forma rotativa, para que todos possam ganhar de forma equitativa.
O artesanato, com a confecção de meias, gorros, cachecóis em lã de alpaca, tornou-se mais uma forma de rendimento. Encontrámos famílias a viver um modo de vida simples, seguindo uma dieta vegetariana durante grande parte do ano e com condições básicas de alojamento.
Mas nesses dois dias vivemos a simplicidade das suas vidas, a alegria de ser criança com uma bola no pé e uma sopa de quinoa quente na barriga. Afinal, a felicidade consegue-se com muito pouco.
O que se leva desta viagem
O turismo sustentável faz parte do nosso ADN de viajante, e a possibilidade de contribuir de forma directa e positiva para o bem-estar destas comunidades é algo de que nos orgulhamos e que serve de retribuição por uma das experiências mais marcantes desta viagem.
Sem dúvida que o encontro com as comunidades locais proporciona uma experiência mais inteira e autêntica nos países que visitámos. E como alguns dos nossos wanderlusters acabaram por comentar, visitar a Ilha Amantani é como fazer uma espécie de “viagem dentro da viagem”.
No final de contas, talvez sejamos nós quem mais aprende com esta viagem a uma humilde biblioteca no meio do lago Titicaca. A verdadeira riqueza está nesta escola de vida, iluminada de perto do céu andino.
Já conheces o roteiro The Wanderlust no Perú?
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Escrito pelos líderes de viagem Cau Costa e Patrícia Campos