Fotógrafa profissional e copywriter, Isabel Saldanha define-se como alguém que “pratica o desapego”, com um espírito sagaz e curioso. Formou o Gang do Pé Preto com as filhas e Marta d’Orey, dando origem a um blog de viagens com o mesmo nome, já premiado nos Open World Awards.
The Wanderlust: Procuras explorar caminhos off the beaten track, tal como a The Wanderlust, como surgiu a paixão por viajar?
Isabel Saldanha: Só fiz a minha primeira viagem internacional, com direito a voo e mala de porão, quando já tinha vinte e poucos anos. Mas na verdade, sempre viajei muito, porque desde os meus 6 anos que sou uma leitora compulsiva. E quem lê muito vai a todo o lado. A minha paixão por viagens veio nas asas de um livro. Depois de viver tantas aventuras fiquei com uma fome insaciável de conhecer esses cenários, onde as minhas personagens se moviam, amavam, se relacionavam e morriam. Com a fome dos livros nasceu a fome das viagens.
Todas as aventuras do teu projecto Gang do Pé Preto têm como base o contacto com a natureza, tradições e costumes locais. Vês o contacto com novas realidades como uma forma de aprendizagem para a tua família?
Quando criei o Gang do Pé preto quis apenas operacionalizar uma filosofia de vida. Sair da lógica atrofiante e burguesa das grandes cidades e dar-lhes a conhecer a fisionomia do nosso país. Sempre acreditei que o conhecimento é amplificado de dentro para fora. De nada adianta ir palmilhar mundo senão conheces bem o território que habitas. A nossa geografia define-nos. Para mim, sempre foi importante dar-lhes um sentido de pertença, conhecer as serras, os rios, as montanhas, as aldeias e as vilas do país onde nasceram. Ouvir as histórias contadas na primeira pessoa, de habitantes de aldeias que estão prestes a virar museus. E depois, a partir deste amor ao que é seu, podem ir trilhar o resto do mundo. Terão um ponto de referência e a partir daí será muito mais fácil absorver a imensidão que o Globo tem para lhes dar.

O Gang em Porto Santo (Créditos: Isabel Saldanha)
A autenticidade cultural de um país é um factor que tens em conta quando escolhes as tuas viagens?
Sim. Embora a autenticidade antropológica dos povos seja uma questão dúbia, procuro ir a Países que me expandam os diafragmas do conhecimento.
O próximo destino do gang já está decidido?
Marrocos. Já fui com elas a África – África do Sul, Moçambique e São Tomé – mas gostava que conhecessem este cantinho de exotismo e levantassem o véu de um país islâmico com toda a sua riqueza cultural.
Estás também relacionada com projectos de cariz social, quando viajas procuras ligar-te a associações locais?
Tenho feito alguma coisa, mas gostava de fazer muito mais. Associei-me a um projecto em São Tomé, porque a ajuda era clara, fazível, honesta e objectiva. E porque de alguma forma sinto que esta ilha é uma espécie de casa em África. É apenas fazer chegar o apoio de material escolar a algumas escolas. Parece simples. Mas é sempre uma epopeia fazer das mãos um abraço. Toda a ajuda é bem vinda.

São Tomé (Créditos: Isabel Saldanha)
Tenho de terminar com uma pergunta que te peço emprestada… És pé descalço ou pé calçado?
Na verdade sou pé descalço em alcatrão quente, em casa ando sempre de meias ou com pantufas. Sou friorenta. Mas gosto de descalçar a alma e sorver tudo. Não forço, mas sempre que posso gosto de estar perto das pessoas que habitam os lugares que visito. São repositórios de história. Isso e a gastronomia local, cada prato é uma revelação sobre os costumes de um povo e os recursos do seu país. Na verdade, tanto faz o que levas nos pés, desde que abras o coração.
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