Tiago Salazar faz da escrita o seu ofício, tendo trabalhado como jornalista e cronista, é autor de livros de viagens e de um romance histórico. Apresentou duas temporadas do programa Endereço Desconhecido, produzido para a RTP 2, onde mostrou doze dos últimos países a entrar na União Europeia e treze estados do Brasil.
The Wanderlust: Comecemos com uma frase dita por ti numa palestra TEDx: “Viajar é a melhor forma de descobrir palavras como o respeito”. Consideras que tantos anos de viagens te deram uma maior tolerância para com o outro?
Tiago Salazar: A tolerância não requer viagens de longo curso, isto é, fazer kms ou léguas ou jardas ou milhas, literais. É uma viagem interior, de reflexão sobre o que é outro, o que somos nós. Encarando o simples facto de que partilhamos todos por um breve tempo um planeta chamado Terra. É facto que ver gente de todos os tamanhos, raças e feitios, e fazer por entender os seus costumes, é um desafio para desenvolver a tolerância e a aceitação do outro. Tendemos ao julgamento do que é diferente, afastado-o, no lugar de aceitarmos o que nos distingue, como algo que nos aproxima e diversifica.
A Casa do Mundo, o teu primeiro livro, foca-se sobretudo na Europa de Leste, com histórias divertidas e bem regadas. Qual é para ti o fascínio desta região?
Não se trata de um fascínio diferente do que poderia ser a Ásia Menor. A Casa do Mundo podia fazer parte de uma trilogia (com as Viagens Sentimentais e As Rotas do Sonho) com a seguinte arrumação: Mundo, Europa, Mundo. A Europa ocupa o lugar central enquanto meu berço de civilização, e creio bem que poderei continuar a percorrer o mundo mas é à Europa que sempre voltarei. A começar e acabar em Portugal.
Também já gravada num dos teus livros, está a vez em que perdeste o comboio no meio da Sibéria. Este tipo de confusões, em que os planos de viagem saem furados e acabam por criar novas aventuras, são mais marcantes?
Não se encontra o que se procura, mas o que se encontra, disse o MST (Miguel Sousa Tavares). São estes acasos que fazem a riqueza emocional de uma viagem. É claro que isto não acontece de forma forçada. E quando perdi esse comboio, os instantes iniciais foram agitados e demorou algum tempo (já com a solução em curso, fruto da bondade de um taxista siberiano, que me levou de borla até à estação seguinte) até entrar no espírito do acaso.
Sendo que a tua escrita se costuma focar na atualidade, ou na reflexão sobre diferentes realidades que conheces em viagem, como surgiu a ideia de escrever um romance (ainda que baseado em factos reais)?
A ideia para o romance aconteceu em Istambul, ao ir parar à escada Camondo, um nome que desconhecia e por acaso (mais uma vez) vim a saber serem chamados de os Rothschild do Oriente, ou seja, uma família de grande poder económico, mas muito menos conhecida. Atraio-me por factos ditos de reais e pelo trabalho de pesquisa que faz de mim um historiador amador, antes de fazer disso uma narrativa. Voltou a acontecer há pouco, com a escrita de um outro romance inspirado no que terá sido a vida do nosso cavaleiro de armas medieval, O Magriço.
Mais recentemente, viajaste de uma maneira diferente, ao mostrar Lisboa a turistas em passeios de tuk-tuk. Foi uma ideia que surgiu pelas possíveis aventuras que terias para contar?
O tuk tuk pareceu-me um veículo inspirador para ouvir e contar histórias, por poder acolher gente de várias nacionalidades numa atmosfera intimista. Assim comecei por escrever crónicas (publicadas na Sábado) e que deram lugar ao livro O Moturista Acidental (edições A23).
Por último, já estás a preparar um novo projeto?
O novo projecto é precisamente um programa de TV com o mesmo título do livro O Moturista que terá uma série inicial de 6 episódios. Conta com entrevistados a bordo do tuk tuk, numa viagem por Lisboa.
Podes seguir o trabalho do Tiago Salazar aqui.
Foto de capa: Manuel Manso