As horríveis verdades e a esperança nas alternativas
É certo e sabido que uma grande parte das pessoas que pensa na Tailândia como destino turístico tem presente na sua mente os famosos passeios de elefante.
Contudo, o que muitas pessoas não sabem, é que este tipo de passeios esconde uma horrível realidade no que diz respeito à qualidade de vida deste gigante da natureza.
É comum ouvir histórias de pessoas que realizaram passeios de elefantes na Tailândia, onde afirmam que estes são mantidos em segurança e bem tratados. Outros, afirmam que o passeio que fizeram não possui impacto negativo uma vez que andaram directamente em cima do elefante e que este não tinha a plataforma de madeira sobre as suas costas, o que não prejudica o animal.
Bom…a verdade é que, infelizmente, qualquer prática que envolva um passeio de elefante causa um impacto negativo, não só ao nível do bem-estar animal, como ao nível da sustentabilidade turística e ambiental, tendo ainda um impacto negativo na vida dos mahouts (donos e tratadores de elefantes), que muitas das vezes são explorados ao nível das condições de trabalho.
Como entraram os elefantes na indústria do turismo?

Ankus (créditos: worldanimalprotection.org.br)
A relação entre humanos e elefantes na Tailândia conta com mais de 3.000 anos. No passado, estes foram maioritariamente utilizados como ferramente de trabalho, principalmente na indústria madeireira, tendo-se verificado esta relação até quase ao final do século XX. Contudo, em 1989, surgiu uma proibição do governo tailandês sobre a silvicultura comercial, deixando assim muitos mahouts sem rendimentos e levando-os à procura de outro tipo de mercados.
Inicialmente, esta troca de mercados foi vista como uma boa alternativa, dado que o trabalho na indústria madeireira era bastante mais pesado do que os tradicionais passeios de elefante ou espectáculos de circo. Contudo, hoje em dia, a grande parte dos elefantes trabalhadores da indústria já morreram, sendo o lucro do turismo a principal motivação para a população de elefantes em cativeiro continuar a crescer.
População em números

Elefantes aprisionados e com plataformas para passeios (créditos: kohsamuisunset.com)
Estima-se que em território tailandês existam entre 2.500 a 3.200 elefantes em estado selvagem, um número preocupante, tendo em conta que em cativeiro existem cerca de 4.400.
Na segunda metade do século XX, a população de elefantes em cativeiro diminuiu, e dois anos após a decisão do governo sobre a silvicultura, o número rondava os 2.938 espécimes (1991). Esta descida parecia continuar a registar-se até que, em 2007, o número revelou-se bastante acima do previsto, com cerca de 3.456 espécimes em cativeiro, subindo novamente, em 2012, para os 4.287. Segundo o National Institute of Elephant Research and Health Service, em 2014 foram registados 4.435 elefantes em cativeiro, o que demonstra um aumento de 50% face ao ano de 1991.
Verifica-se assim um notório impacto da indústria do turismo ao nível da população de elefantes, tanto em cativeiro como em estado selvagem. É verdadeiramente preocupante dado que, muitos dos elefantes actualmente presos em cativeiro, foram capturados em estado selvagem para posteriormente serem vendidos. O preço destes animais pode chegar aos 30.000 USD (cerca de 27 mil euros), sendo este um valor muito apelativo para os caçadores.
Maus tratos e bem-estar

Phajaan, técnicna para “domesticar” os elefantes (créditos: kimpluscraig.com)
Existe já bastante informação que põe a nu a brutalidade a que os elefantes são submetidos de forma a ficarem “domesticados”. Afinal, manter um gigante com um peso médio de 4 toneladas submisso à nossa vontade, não será a mesma coisa que fazê-lo com um animal doméstico como o cão.
O método para domesticar os elefantes, na Tailândia, é conhecido como Phajaan, consistindo, numa fase inicial, em separar os elefantes das suas progenitoras, ainda em idades prematuras, o que muitas vezes envolve a mortes das respectivas mães. O passo seguinte passa por isolar o elefante jovem numa espécie de gaiola mínima, onde é submetido a vários tipos de tortura, ficando quase totalmente imóvel e privado de comida e bebida, assim como de dormir. A acrescentar a tudo isto, os mahouts com o apoio de vários instrumentos, sendo os ankus (paus com ganchos de metal na ponta) os mais comuns, desferem golpes nas zonas mais sensíveis dos elefantes, tornando-os submissos através do reforço negativo da dor. No final do processo, o elefante encontra-se extremamente traumatizado e submisso, o que permite então começar o seu treino para as mais variadas funções.
O processo Phajaan tem em inglês um significado como Elephant Crushing, ou em português Esmagamento do Elefante, uma vez que para este processo ser concluído o espírito do animal tem de ser completamente quebrado de forma a dar lugar a um espírito submisso.
Existem alternativas

Elefantes em interacções naturais (créditos: Elephant Nature Park)
Ainda assim nem tudo são más notícias; actualmente existem já na Tailândia vários projectos de apoio à espécie, que oferecem aos viajantes uma experiência diferente e com um impacto positivo para futuro do elefante asiático.
Um exemplo é a Save Elephant Foundation, que proporciona experiências alternativas às ofertas do turismo tradicional com elefantes no Elephant Nature Park. Ao mesmo tempo, promove a educação, entrando em contacto com vários proprietários de elefantes com objectivo de mudar a maneira como eles trabalham e apresentando-lhes uma perspectiva diferente sobre o turismo.
No Elephant Nature Park os passeios de elefante estão fora de questão, assim como qualquer “espectáculo” de entretenimento e acrobacias levado a cabo por estes belíssimos animais. Os viajantes que queiram ajudar nesta missão têm a possibilidade de ajudar na preparação das tarefas diárias para garantir o bem-estar destes gigantes, assim como assistir de perto às interacções naturais entre os vários elefantes resgatados pela Save Elephant Foundation.
Em Abril de 2018, a Save Elephant Foundation implementou uma nova regra nas suas actividades, cessando assim o banho dos turistas com os elefantes, afirmando que os elefantes não levam a cabo um comportamento natural e livre ao serem forçados a ir para um lago inúmeras vezes por dia, para que os viajantes possam ter um contacto mais directo com eles enquanto lhes “dão banho”.
A regra será sempre: quanto mais livre e natural tanto melhor.
Já conheces o nosso projeto filantrópico Wander For Good?